Cabral diz a Moro que fez compras de luxo com ‘sobra de caixa 2’
Acusado de receber 2,7 milhões de
reais em propina da Andrade Gutierrez, ex-governador afirmou que gastos foram
sua responsabilidade, e não de sua mulher
Réu em uma ação penal sob responsabilidade do juiz federal Sergio
Moro e preso em Bangu 8, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral foi
nesta quinta-feira a Curitiba para depor ao magistrado. Na oitiva, que durou
cerca de 30 minutos, Cabral, orientado por seus advogados, respondeu apenas as
questões da defesa e ficou em silêncio quando perguntado por Moro ou o
Ministério Público Federal. O ex-governador e seu grupo político são acusados
neste processo de embolsar 2,7
milhões de reais em propina da
empreiteira Andrade
Gutierrez entre 2007 e 2011,
referentes ao contrato de construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj).
As respostas do
peemedebista diante do juiz mostram que sua estratégia de defesa é a de alegar
que as compras milionárias roupas de grife, joias e carros, enumeradas pelo
Ministério Público Federal na denúncia, foram feitas com dinheiro próprio e o
que ele chamou de “sobras de caixa dois de campanha” – e não com propina.
“Reconheço esse erro, reconheço que são recursos próprios e
recursos de sobra de campanha de caixa dois. Esses recursos nada a ver nem com
minha mulher, muito menos com essa acusação de Comperj”, disse Cabral, cuja
mulher, a advogada Adriana Ancelmo, também é ré neste processo.
“Não vou negar que houve uso de caixa dois e houve uso de
sobra de campanha de recursos em função de eu ter sido um politico sempre com
desempenho eleitoral muito forte no estado. O financiamento acontecia e esses
fatos são reais”, gabou-se Cabral, que citou a preocupação de Moro com o
financiamento paralelo de campanhas e disse que “a questão democrática é sempre
vital e, portanto, tem que se encontrar um caminho para isso”.
Após as questões
feitas pelo advogado de Sérgio Cabral, Moro perguntou ao peemedebista se ele
gostaria de dar mais informações sobre o pagamento de caixa dois que resultou
nas tais “sobras”, mas o ex-governador respondeu que essas irregularidades não
estão relacionadas ao processo e preferiu não entrar em detalhes.
A respeito das notas fiscais de compras de bens de luxo
emitidas em nome de Adriana, que segundo o peemedebista apenas “escolhia alguns
produtos”, Cabral afirmou a Moro que os recursos e gastos eram de sua
responsabilidade, e não dela. “Em hipótese nenhuma vou dizer que não é verdade.
Os recursos eram meus e a responsabilidade é minha. Minha mulher não conhece
nenhum desses personagens que são citados, executivos da Petrobras, etc, etc.
São responsabilidades minhas, diretas”.
Além deste processo, em que é acusado dos crimes de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, Cabral é réu em seis ações penais na Justiça
Federal do Rio de Janeiro, todas sob responsabilidade do juiz Marcelo Bretas.
Relação ‘dura’ com a Petrobras
Citado pelo
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo
Roberto Costa como
um dos padrinhos políticos que lhe deram sustentação política no cargo em troca
de propinas, Sérgio Cabral afirmou a Sergio Moro que a relação de seu governo
com a Petrobras era “muito difícil, muito dura” em função de cobranças feitas
por mais royalties de petróleo, ICMS e participação especial.
“Nunca, nunca indiquei um cargo no governo federal, o que
dirá na Petrobras, onde minha relação era extremamente polêmica e difícil, pelo
posicionamento contra a lei do pré-sal, pelas cobranças que fazíamos de
impostos devidos”.
Cabral relatou que havia uma apenas uma “relação
institucional” com Paulo Roberto Costa e que nunca tratou de financiamento de
campanhas com o ex-diretor da estatal. O ex-governador chamou de
“invencionices” os trechos da delação de Costa que o citam como beneficiário de
propinas de contratos da Petrobras.
O ex-governador também negou conhecer os executivos da
Andrade Gutierrez Rogério Nora de Sá e Clóvis Primo, que o também o citaram em
suas delações premiadas.