JBS entrega anexos complementares de delação à Procuradoria
Estadão Conteúdo
31.08.17 - 20h56
Os advogados do grupo J&F entregaram nesta
quinta-feira, 31, os anexos complementares da delação feita pelos executivos da
empresa. Há entre os novos anexos repassados à Procuradoria-Geral da República
a explicação de como deve ser feita a leitura de planilha entregue pelo diretor
Ricardo Saud, que indica doações da JBS a mais de 1,8 mil políticos.
No material, a JBS aponta quais doações foram fruto
de corrupção e quais foram caso de caixa 2 – quando não há registro oficial da
doação, mas a empresa não negociou nenhuma contrapartida para o repasse do
dinheiro. Há anexo também sobre os contratos das empresas do grupo com o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As informações
prestadas, segundo fontes com acesso ao material, indicariam gestão fraudulenta
nas operações do banco. Nesse caso, a entrega tem como finalidade evitar que
empresa seja processada na Justiça Federal de Brasília por conta dos
desdobramentos da operação Bullish.
O procurador do caso, Ivan Marx, afirmou à
reportagem que Josley omitiu em sua colaboração os crimes praticados no banco
público. Diante das críticas do juiz, a empresa decidiu que entregaria todo o
material à PGR, órgão com o qual foi firmado o acordo de delação, para que os
investigadores decidam o que compartilhar com o Ministério Público Federal em
Brasília.
Entre as novas informações entregues estão também
gravações feitas por Joesley Batista, dono do grupo e um dos delatores. A
Polícia Federal havia encontrado, durante perícia no gravador de Joesley,
arquivos apagados. A defesa de Batista optou por entregar áudios para que os
procuradores façam a análise de todo o material disponível.
Questionado sobre os áudios, o grupo J&F
informou por nota que “os colaboradores já apresentaram informações e
documentos à Procuradoria-Geral da República”. “Conforme acordo firmado, estão
sendo identificados outros dados e documentações como complementos às
investigações. Os colaboradores continuam à disposição para cooperar com a
Justiça”, diz a nota.
A JBS queria mais 60 dias para entregar a documentação
prometida à Procuradoria-Geral da República (PGR) e chegou a fazer esse pedido
ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Como a petição não
foi respondida a tempo pelo ministro, a empresa teve de entregar o material
nesta quinta-feira, prazo inicial acordado com os procuradores.
A previsão de que a JBS entregaria informações
complementares depois de homologada a delação foi acertada entre a empresa e a
Procuradoria. Em maio, os donos do grupo, Joesley e Wesley Batista, e outros cinco
funcionários da empresa firmaram o acordo de delação que atingiu o presidente
Michel Temer, o senador Aécio Neves, presidente licenciado do PSDB, entre
outros políticos.
A empresa já havia entregue à PGR, em um dos anexos
após a delação assinada e homologada, informações sobre fiscais do Ministério
da Agricultura que ficavam à disposição do grupo para agilizar fiscalizações.
A PGR aceitou que o material fosse entregue em até
120 dias após a negociação da delação em razão do volume de informações e da necessidade
da empresa de acionar diversas áreas do grupo para adquirir os documentos
exigidos pelos investigadores – o que não pode ser feito naquele momento em
razão do sigilo do acordo. Fazem parte dos novos anexos documentações de
e-mails, agendas e planilhas de contabilidade.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi
alvo de críticas quando firmou o acordo com os irmãos Batista, por conceder
imunidade penal aos delatores. Investigadores com acesso ao material, no
entanto, garantem que as informações prestadas pelos delatores e os novos
anexos entregues oferecem provas robustas.